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No mês de agosto de 2021 o Brasil teve sancionada a Lei nº 14.193/2021– “Lei do Clube Empresa” que permite aos clubes a conversão para Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Em resumo a nova formatação jurídica permite que os clubes de futebol, que hoje em sua maioria são associações sem fins lucrativos, consigam proporcionar garantias legais para possíveis investidores que poderão optar pela compra de cotas menores ou até mesmo pela aquisição integral do clube.
Mas a grande dúvida que paira no ar é sobre o quão saudável será transformar um clube em SAF e quais os benefícios isso trará para o futebol brasileiro, seria o início da profissionalização do esporte no país ou podemos estar diante do início do fim de entidades/clubes centenários? Botafogo, Cuiabá e Cruzeiro estão desbravando com estratégias diferentes entre si, uma vez que cada entidade é responsável por definir qual o percentual de capital do clube que será destinado para a venda e, normalmente, essa decisão passa pela aprovação do Conselho Deliberativo das entidades.
A XP Investimentos, renomada empresa do mercado financeiro, através do executivo Pedro Mesquita está liderando o projeto de transição do Cruzeiro sob a promessa de que possui em sua carteira de clientes investidores dispostos a pagar mais de 600 milhões de reais por 60% da SAF recentemente constituída. Porém, o conselho deliberativo do clube autorizou a transformação para clube empresa desde que o clube mantenha no mínimo 51% das cotas, ou seja, não querem perder o controle das ações executivas da entidade.
O Cruzeiro possui uma dívida que ultrapassa 1 bilhão de reais, mas bem gerida deverá ser quitada por menos de R$600 milhões. Com um faturamento anual próximo de 175 milhões de reais, em crise, tem um potencial de payback em menos de 05 anos e certamente uma expectativa de crescimento na casa dos dois dígitos durante o mesmo período. Um excelente negócio para o investidor, desde que ele tenha plena confiança, convicção e poderes para realizar a gestão do negócio.
Não existirá clube empresa se a gestão da entidade continuar nas mãos de dirigentes associados que iniciam suas carreiras pela paixão ao clube e não pelo preparo técnico para exercer suas funções corporativamente, com metas, diretrizes claras e processos efetivos. As entidades deveriam preocupar-se em realizar o valuation de suas marcas para não vender seu patrimônio por um valor que daqui 05 anos seja alvo de chacota, ou existe alguma dúvida de que uma empresa que fatura quase R$200 milhões ao ano e possui cerca de 4 milhões de potenciais consumidores vale mais do que 1 bilhão de reais?
De fato, não existe receita de bolo, mas como em qualquer novo negócio os investidores que comprarem primeiro pagarão menos e lucrarão mais. Haverão grandes cases de sucesso e também amargaremos insucessos que poderão culminar na extinção de clubes tradicionais da nossa história, resta saber quem sobreviverá nesta roleta-russa.
Por: FELLIPE DROMMOND Sócio Diretor do Grupo TFW, CEO do Magnus Futsal e CMO da More Skills.