Publicado em: 00/00/0000
“O que faz um 'Coach' numa equipe técnica?
A realização
de um processo de 'coaching' com o Treinador pode ser organizado em três fases
distintas, em que a passagem da primeira para a segunda fase e
consecutivamente, dependeria da avaliação constante que as partes envolvidas
realizam regularmente.
Essas três
fases ajudam a explicar um pouco o que um 'Coach' pode realizar numa equipe de
futebol. A primeira fase seria (e foi) propor e realizar um processo de
'coaching' individual coom o treinador principal. Numa análise à realidade da
sua comunicação, liderança, motivação, gestão de equipe, relacionamento e PNL. Numa perspectiva intra e
interpessoal.
Mas o que
isto quer dizer?! Bem, de modo simples, passou por analisar o que o treinador
faz, pensa e sente, e depois perceber o que chega ao receptor, que neste caso,
são os jogadores, bem como seu staff. Avaliamos o que é emitido na percepção do
Treinador e o que é compreendido. Podemos fazer isto observando gestos,
palavras, comunicações, palestras, treinos, ações e reações. E para isso, opto
por filmar, gravar, escrever e perguntar. E acima de tudo, observar e dialogar.
É importante dizer que a confiança pessoal e técnica é (também) a base para que
algo deste genero possa ser realizado.
E o que se
faz com isso? O ‘isso’ se refere a informação. Informação sobre hábitos,
crenças, ações, diálogos, gestos, interações, posturas, abordagens e muitas
intervenções. Para além disso, de modo regular, fala-se com (o treinador). Falo
para o informar acerca do que ví, para dialogarmos, para ouvir a sua versão,
todas as versões. Seja quando estou a tomar café com ele, quando estou a
assistir ao treino da arquibancada ou no próprio campo, que nos primeiros
tempos, ocorreu sempre de um modo muito discreto.
No jogo, o
acompanhamento faz-se ao lado dos outros membros da equipe técnica que não vão
para o banco. Nesta altura, convém situar que, por decisão do treinador, já
tinha sido apresentado aos jogadores como alguém que fazia parte da equipe
técnica do clube e estava ali para fazer 'coaching' - o que quer que isso
significasse para cada uma das cabeças de cada ser humano que estava no
vestiário naquele momento.
Mais mês
menos mês, numa segunda fase, realizaria o mesmo processo com os outros
assistentes do Treinador. Observação das suas intervenções, trocas de
impressões, relatórios, questionários, perguntas e reunião. Isto repetido
várias vezes. Até ao final da temporada. Elaborara-se relatórios de
diagnósticos, sugestões e ferramentas para desenvolver as competências que se
consideraram prioritárias para desenvolver por parte dos assistentes (e aceito,
com um processo de explicação).
Ainda sem
ter terminado a segunda fase, e devido à aceitação de todos, iniciou-se a
terceira fase, a interação com os jogadores. Nesta altura já frequentava todos
os espaços: Vestiário, palestras, jogo, treino, espaços onde pudesse retirar a
informação necessária e respeitando sempre aquilo que é de mais sagrado que
pode existir numa equipe: o seu espaço e as suas regras.
Voltando às
dinâmicas, dinamizaram-se dinâmicas coletivas no treino, para trabalhar
competências específicas: comunicação, confiança, foco, só para dar alguns
exemplos. Através de conversas e observações a atletas previamente
identificados e autorizados, antes, durante e pós-treino.
Reconheço
que a intervenção durante o treino pode ferir suscetibilidades a alguns, pelo
que passo a explicar com exemplos. Sabemos que para o atleta é fundamental
comunicar durante o jogo. Chamar à atenção do colega, gritar, ajudar ou avisar.
Sabemos que os atletas muitas vezes chegam a profissionais com estes handicaps.
Algo que não foi trabalhado na formação. Estou atento a isto. Falo com o
treinador. Sintonia nesta área. “Força” encoraja o treinador. Aguardo os
momentos que sejam necessários. Dirijo-me ao atleta numa pausa ou naqueles
momentos em que, durante o exercício, o atleta está junto a mim, e digo-lhe:
“(nome do atleta, sempre!) falar é importante, fala contigo, fala com os teus
colegas, tu e eles precisam! Irá ajudar-te a seres melhor, acredita. Durante
vários treinos existe um enfoque nesta área. Não se força, não se desgasta a
relação por causa do assunto, mas acompanha-se. Damos feedback, demonstramos
que estamos atentos, que o acompanhamos, que o atleta é alvo da nossa atenção e
preocupação.
Outro atleta
– também ele promissor – tinha por hábito dar feedback aos colegas mais sobre
aquilo que não era para fazer ou acontecer, do que aquilo que esse atleta
queria que acontecesse. “Não percas a bola, não vá para a esquerda, não suba,
nas perca a concentração, etc”. Um conjunto de “nãos” ou de castrações.
“Mister, posso falar ao (nome do atleta) sobre a importância de intervirmos com
o que queremos que aconteça e não com o que não queremos que façam. Porque uma
fomenta a proatividade e a solução, outra leva ao medo de errar e à negação.”
Explico ao atleta, acompanho, e passados uns treinos, falo com ele e chegamos à
conclusão que está a falar menos, mas melhor. Mais um objetivo.
Isto faz
ganhar jogos? Não, provavelmente não fará. Os que ganham mais vezes fazem mais
vezes umas coisas do que outras ao nível comportamental? Claramente. O
'coaching' não é simplesmente sobre causa – efeito. Mas o efeito que procuramos
tem algumas causas e uma delas é um acompanhamento a vários níveis do que
fazemos, dizemos, pensamos, sentimos, etc.
Claro que
existe muita coisa que não está aqui descrita. Momentos melhores e outros mais
difíceis. Relembro que o futebol é jogado por pessoas, lideradas por pessoas.
Que existe uma base enorme de conhecimento da área do comportamento que nos
rege diariamente. Como intervimos, para quem, quando, o que dizemos, como
reagimos, como antecipamos, onde o realizamos. Tantas, mas tantas ações,
algumas variáveis, muitos cenários. A liderança, apesar de ser uma das áreas
mais estudadas, ainda é bastante apaixonante. E contribui muito para o sucesso
(seja quais forem os objetivos) da sua equipe e dos atletas.
Por Rui
Lança