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Um tema não muito abordado e que influencia diretamente o futebol da equipe em campo, é a capacidade do treinador de ser líder, gerir um grupo, entender e resolver as situações e dificuldades enfrentadas, além de entender seus jogadores como pessoas em um nível mais profundo.
Dessa forma o treinador que possui as habilidades de se comunicar bem, de entender os jogadores, gerar empatia e motivar o grupo pode criar um ambiente voltado para o alto desempenho. Vale ressaltar que, mesmo tendo várias qualidades que são essenciais para o sucesso em alto, ainda assim ocorrerão problemas. Entretanto, se o treinador está disposto a seguir estudando sobre comportamentos, psicologia e outras áreas que envolvem este entendimento humano – aliando essa base de estudos teórica com a resolução de situações na prática, então é provável que o trabalho atingirá melhores níveis, pois os treinadores se relacionarão melhor com seu staff e também com o grupo de jogadores essencialmente, além de solucionar problemas de maneira mais eficiente. Essa sabedoria de entender as pessoas também é necessária para a relação com a imprensa e com o público, pontos chave no processo de formação de uma ‘imagem’ pública do Treinador. Apesar do texto falar e dar exemplo sobre o futebol profissional, é claro que em diferentes proporções e nível de exigência essas qualidades são necessárias também em academias de futebol na formação de jogadores.
Outro insight importante pode ser retirado de um trecho do livro “Guardiola Confidencial” que conta sobre a passagem do treinador no Bayern, escrito pelo fenomenal Marti Perarnau: “Guardiola e Thomas Müller debatem no gramado. O técnico pergunta por que o jogador não joga sempre como ontem, com a mesma precisão e intensidade. O jogador diz?—?que quer liberdade de movimentos, que joga melhor quando não tem responsabilidades. Com vários gestos, o técnico responde que, se cada jogador do time quiser jogar com liberdade, acabará sendo um desastre. Mas logo entrarão em um acordo. Talvez pela experiência adquirida no Barcelona com atletas de muita personalidade como Eto’o ou Ibrahimovic, vemos que Pep dialoga e é direto com seus jogadores. Sempre acreditou que cada jogador tem um jeito e precisa de um tratamento diferente; então, em Munique, essa é a idéia que ele aplicava. Percebe que Schweinsteiger é louco por futebol e que pode falar com ele por horas a fio sobre questões táticas. É o que ele faz. Um dia, vimos os dois discutindo um lance durante trinta minutos logo após o treino. Quando foram para o vestiário, o assunto ainda era o mesmo. E vinte minutos mais tarde, saíram pela outra porta— de banho tomado e a caminho do ônibus, porque iriam para o hotel da concentração?—?e continuavam discutindo a mesma questão tática, gesticulando, como se estivessem disputando naquele momento a final da Champions. A Philipp Lahm, Pep pode dar todas as instruções que quiser: o capitão as absorve sem hesitar. Por outro lado, com Ribéry é preciso ir devagar: ele é um atleta formado nas ruas, que se fez recorrendo à intuição, e transmitir-lhe dois conceitos táticos ao mesmo tempo pode acabar bloqueando-o no gramado. Ribéry segue jogando como quando era criança na rua: recebe a bola e imediatamente ataca. Com instruções demais, ele se enrola. Então, é preciso ir devagar e com simplicidade.
Guardiola já sabia, mas aprendeu de uma vez no Barça: cada jogador é diferente e deve ser tratado de forma distinta. O segredo está em afinar o diálogo com cada um. O treinador teve experiências boas e ruins. Agora, enquanto seus atletas aprendem e incorporam novos conceitos de jogo, ele também está aprendendo e se aperfeiçoando nos relacionamentos pessoais: é duro com alguns e dócil com outros. Estende-se nas explicações táticas com um garoto da base e, se considerar oportuno, será ríspido com um titular indiscutível. Procura encontrar a tecla correta para cada jogador, aquela que o levará um tom acima.”
Outro caso que vale a pena se inspirar e tirar lições é o de Julian Nagelsmann. Treinador jovem do Red Bul -Leipzig da Alemanha eleito o melhor técnico alemão pela Federação Alemã. Apesar do uso de tecnologia utilizada na equipe e inovações nos treinos, de sua inteligência tática já demonstrada nas variações de sistema de jogo, e no modelo de jogo da equipe, o treinador garante que a parte mais importante em ser treinador são as relações. O treinador formado em Ciências do Esporte diz entre outras coisas que a função do treinador é composta 30% de táticas e 70% de competência social:
— Se você quer sucesso em curto prazo, conhecimento tático está bom, mas, para longo prazo, você precisa ter uma idéia de como gerir pessoas, como colocá-las para trabalhar junto, como lidar com os problemas pessoais dos jogadores. No fim do dia, um jogador que nem sempre faz tudo certo, mas que põe o coração no que faz é muito mais eficaz do que aquele que faz tudo 100% corretamente, mas está emocionalmente envolvido apenas pela metade.
Podemos concluir que as partes que envolvem relacionamento humano e gestão de pessoas são um fator muito importante no sucesso de um treinador perante a um grupo de jogadores, ao clube e a torcida. Desse modo é necessário que os treinadores busquem se desenvolver cada vez mais nesse sentido, apesar de alguns já terem isso de forma natural, é possível melhorar por meio de cursos , estudos e prática nos relacionamentos do dia-a-dia e não se deve negligenciar tal fator principalmente no esporte de alto rendimento.