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Neurociências têm vindo a assumir um papel cada vez mais preponderante no mundo do esporte, particularmente no futebol. Esta tendência crescente decorre do reconhecimento de que o desempenho esportivo não é apenas uma questão de capacidades físicas, mas também uma complexa interação de processos cognitivos e psicológicos. Compreender como o cérebro opera e como influencia a performance dos jogadores em campo pode abrir novas portas para métodos de treino mais eficazes e estratégias de jogo inovadoras. A integração das neurociências no treino esportivo permite uma abordagem mais holística, considerando tanto o corpo quanto a mente do atleta.
No futebol, entender o cérebro e os seus processos pode trazer benefícios significativos para o treino e para a performance dos jogadores. Técnicas como o neurofeedback e exercícios cognitivos podem ser utilizados para melhorar a concentração, a tomada de decisão e a rapidez na reação dos jogadores. Além disso, compreender como o stress e a "pressão" afetam o desempenho mental e físico pode ajudar no desenvolvimento de métodos para gerir a ansiedade e aumentar a resiliência em situações de alta exigência.
Focaremos nessa fase no processo de tomada de decisão.
Na literatura encontramos vários métodos de treino em campo para melhorar as habilidades perceptivo-cognitivas no desporto. Um dos métodos populares é o uso de abordagens instrucionais alternativas, que têm ganho popularidade no futebol. Por exemplo, a abordagem "Teaching Games for Understanding" (TGFU) visa melhorar a inteligência tática por meio de situações relacionadas ao jogo, simplificadas e baseadas numa descobertas guiada durante o treino.
Outra abordagem é a Pedagogia Não-linear (NLP), que se baseia em princípios da dinâmica ecológica. A NLP procura alcançar a variabilidade funcional das habilidades através de acoplamentos percepção-ação durante a prática, utilizando desenhos de aprendizagem representativos e uma abordagem facilitadora ao treino. O objetivo é apoiar os jogadores na descoberta de soluções individuais de movimento através de um processo de aprendizagem não linear.
Além disso, a Aprendizagem Diferencial (DL), baseada na teoria dos sistemas dinâmicos, assume que os atletas precisam se adaptar a perturbações constantes em ambientes competitivos dinâmicos. Assim, praticar habilidades com flutuações aleatórias adicionais ("ruído") oferece a oportunidade de explorar e auto-organizar padrões de movimento funcionais individuais.
Baseado no exposto anteriormente, críamos dois exercícios de treino destinados a melhorar as habilidades perceptivo-cognitivas, seguindo a abordagem da Pedagogia Não-linear e a Aprendizagem Diferencial.
PEDAGOGIA NÃO LINEAR
Objetivos:
- Adaptação a situações dinâmicas
- Tomada de decisão sob pressão
- Percepção e antecipação
- Soluções criativas e independentes
- Melhoria da comunicação e trabalho em equipe
- Melhoria das capacidades técnico-táticas
EXERCÍCIO: TRABALHO DINÂMICO DE TOMADA DE DECISÃO
Descrição: Jogo reduzido, com jogadores divididos em duas equipes, cada uma usando coletes de cores diferentes. O campo de jogo é delimitado com cones e inclui duas balizas.
Objetivo: Desenvolver a tomada de decisão rápida, percepção situacional, adaptação a mudanças e habilidades técnicas sob pressão.
Regras e dinâmicas:
- Número de jogadores: 5 contra 5 em campo reduzido.
- Início variável: Cada período começa com um cenário de jogo diferente. Por exemplo, um jogador pode começar com a bola em diferentes posições, ou a bola pode ser jogada pelo treinador para iniciar o jogo.
- Mudanças de cenário: Durante o jogo, o treinador introduz mudanças aleatórias, como alterar o número de jogadores em campo (por exemplo, adicionando um jogador extra a uma equipa), mudar as regras de pontuação ou limitar o número de toques na bola.
- Tempo de jogo: Cada período dura de 3 a 5 minutos, seguido de um breve período de discussão e feedback.
- Feedback: O treinador observa e oferece feedback minimalista, incentivando os jogadores a refletirem sobre suas decisões e ações.
- Pontuação: Para tornar o exercício mais envolvente, pode-se introduzir um sistema de pontos, por exemplo, uma equipa ganha pontos não só por marcar golos, mas também por conseguir manter a posse de bola sob certas condições.
- Reinício rápido: Após um golo ou interrupção, o jogo reinicia rapidamente para manter um alto nível de intensidade.
APRENDIZAGEM DIFERENCIAL
EXERCÍCIOS: "DESAFIOS DE HABILIDADES VARIÁVEIS"
FASE 1
Descrição: Este exercício envolve uma série de atividades técnicas, como controle da bola, passe, drible, mas com um elemento de variabilidade e imprevisibilidade introduzido em cada tarefa. Cada jogador dentro do espaço recebe uma bola de um jogador que está fora e deve controlar-la e conduzi-la até outro jogador que esteja fora, tocando nessa fase de posição com ele.
Configuração:
- Espaço de jogo com cones para marcar áreas específicas.
- Vários tipos de bolas (diferentes tamanhos, pesos e/ou texturas).
- Objetos para criar obstáculos (cones, varas,, etc.).
Execução:
- Controlo da bola: Jogadores recebem bolas de diferentes tamanhos e pesos aleatoriamente e precisam controlá-las. O objetivo é manter o controlo sob as condições variáveis.
- Passe: Organização dos jogadores em pares. Estes devem trocar passes, mas a cada passe, a bola é alterada (diferentes tamanhos e pesos). Isso desafia a precisão e adaptação ao peso e comportamento da bola.
- Drible: Colocar obstáculos no campo (cones, varas, etc). Os jogadores devem driblar através desses obstáculos, mas em cada série, a configuração dos obstáculos muda, exigindo adaptação e criatividade no movimento.
FASE 2
Jogo reduzido com regras variáveis: Realizar um jogo em espaço reduzido, introduzindo regras variáveis a cada poucos minutos (por exemplo: limite de toques na bola, jogar apenas com o pé não dominante, incorporação de bolas diferentes).
Objetivo: O objetivo é desenvolver a capacidade dos jogadores de se adaptarem a diferentes situações, melhorando a coordenação, o controlo de bola e a criatividade. Ao expor os jogadores a uma ampla gama de situações e desafios, eles devem ajustar-se rapidamente a novas exigências e a encontrar soluções criativas.
Feedback: O treinador deve observar e oferecer feedback, mas de forma a encorajar a auto-descoberta e a experimentação individual.
Por Coach ID