Publicado em: 00/00/0000
A tomada de decisão no futebol é tentar perceber porque é que uns jogadores decidem melhor do que outros é um dos temas que mais me interessa e numa conversa de alguns dias veio-me à cabeça estas dúvidas sobre o “pensar rápido”.
Se ele existe neste
sentido, tem lógica usar a expressão no futebol, mesmo sabendo que o futebol é
um jogo de decisões e que quem tomar as melhores decisões está mais perto de
ganhar.
Decidir bem é fundamental, claro. E se for bem e rápido, melhor.
Mas decidir
bem não é mesmo que decidir rápido. Tal como pensar bem não é o mesmo que
pensar rápido. O importante não é pensar rápido nem
decidir rápido, o importante é pensar bem e decidir bem para executar rápido.
Quando se diz – e não são tão poucas vezes assim – que alguém
tinha que pensar rápido e encontra nisso a justificação para uma perda de bola,
ou que demorou a decidir (coisas que eu também já disse), parece-me, agora, que
o que se deve dizer é que devia ter pensado antes para depois decidir e
executar automaticamente, de maneira não-consciente.
Por exemplo, em treinos em espaços curtos, com limitação de
toques (um ou dois), estou tentado a acreditar que aqueles que melhor se saem
não “pensam rápido”, mas “pensam antes”. É o tal saber o que se vai fazer,
antes sequer de a bola lhes chegar. Eles não decidem quando tocam na bola (será
possível, a jogar a um toque, executar ao mesmo tempo que se pensa no que se
vai fazer?), decidem antes de a bola lhes chegar.
Os melhores jogadores parece que pensam mais rápido e decidem
mais rápido do que os outros, mas o que eles fazem não será pensar (ler,
antecipar, interpretar) antes e decidir antes para executar rápido? O que os distingue não é ver coisas que os outros não
vêem? E é mais provável que vejam essas coisas
quando têm a bola e estão a executar, ou é mais provável que as vejam quando
não a têm, nas alturas em que dispõem de mais tempo para pensar/analisar?
Todas as decisões, conscientes ou não-conscientes, são consequência de pensamentos e os melhores jogadores não são os que decidem rápido, mas os que decidem melhor, logo são os que pensam melhor. E pensar melhor, quando a seguir vem uma decisão, é pensar antes. É ver, perceber, interpretar o que se está a passar para tentar prever ou até criar o que se seguirá. Os que o conseguem parece que estão à frente no tempo.
Por Vasco Samouco.