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Antes de começar a fundo os assuntos deste texto, são necessários dois pontos antecedentes. Um deles é de que esquema tático e sistema tático, apesar de bem parecidos, são termos com significados diferentes. Enquanto que o esquema tático está relacionado somente ao número (aqueles 4–4–2, 3–5–2, 4–1–4–1 e etc), o sistema tático está atrelado ao como e a maneira como os jogadores se interagem. E como este texto está para mostrar as diferenças em cada esquema, pois em cada um deles o modo como os jogadores se interagem são diferentes, o que vai ser estudado aqui vai o sistema tático e, não, o esquema em si.

O segundo detalhe antes de começar e vai servir como introdução das identificações dos sistemas com dois atacantes e quatro defensores é a pergunta: por que, hoje em dia, se fala 4–2–3–1 e 4–1–4–1 em vez de 4–5–1?

Já que em todos os esquemas táticos se tem 5 meio-campistas? Pois é, se para você o 4–2–3–1, o 4–1–4–1 e o 4–5–1 são diferentes, já temos um bom primeiro passo dado para se identificar e entender o porquê de diferenciar os sistemas com 2 atacantes, 4 defensores e 4 meio-campistas.

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Um exemplo clássico de sistema tático com 4 meio-campistas é o Milan enquanto Kaká jogou por lá: este losango com Pirlo atrás, Gattuso e Seedorf no meio, e Kaká à frente é típico posicionamento de um 4–4–2 losango.

Agora posicionados em que assunto estamos, vamos começar pelo o sistema tático mais antigo para o mais novo aqui no Brasil. Iremos para os anos 90 e o predomínio do 4–4–2 quadrado.

4–4–2 quadrado ou 4–2–2–2

Para ficar bem claro sobre qual sistema tático irei abordar, em cada início de tópico teremos todas as maneiras de como tal sistema tático é chamado e, por isso então, que tivemos aqui o “4–4–2 quadrado ou 4–2–2–2”. No caso deste sistema, temos que, em relação às diferenças aos demais sistemas abordados aqui, o modo como os dois volantes e os dois meias se interagiam e movimentavam entre si. Pela explicação abaixo, essas diferenciações ficarão mais claras.

Equipes como esse Corinthians de 1998 a 2000, o Palmeiras de 1996 e a Seleção Brasileira de 2005/06 são exemplos de 4–2–2–2. Mas por que não é chamado de 4–4–2?

De maneira bem sucinta e direta, no Brasil, a história dos esquemas táticos sofreu um caminho diferente ao da Europa após a Copa de 1962. Naquele ano, a Europa seguiu o caminho com os pontas do 4–2–4 de 1962 e chegando a desenvolver o 4–4–2 em linha já em 1966, enquanto o Brasil foi indo para gerar superioridade numérica no meio chegando à Copa de 1970 com o 4–3–3. Com isso, aqui no Brasil, não tivemos muito contato com o 4–4–2 em linha e por isso não tivemos nenhum outro esquema tático utilizando 4 meio-campistas a não ser o 4–4–2 quadrado. E por este motivo que, a partir dos anos 90, muita pessoas brasileiras, mas muitas mesmo, chama o 4–4–2 quadrado por somente 4–4–2. No entanto, a partir de agora, veremos que são bem diferentes entre si.

O 4–4–2 quadrado é classificado como quadrado porque o movimento dos volantes e dos meias são sincronizados em cada dupla de meio-campistas. Já que, em fase defensiva, quando um volante abria para marcar no lado do campo, o outro centralizava; quando um volante avançava para pressionar a bola mais à frente, o outro centralizava e ficava. Além disso, os meias, em fase defensiva, também faziam os mesmos movimentos, em ação defensiva, também faziam os mesmos movimentos entre si: quando um meia abria para marcar no lado do campo, o outro centralizava; quando um meia avançava para pressionar a bola mais à frente, o outro centralizava e ficava. Uma vez que estes movimentos estavam atrelados ao outro companheiro de posição, temos que os dois volantes formavam uma “linha” e os dois meias formavam outra “linha”. Já que a formação da linha está justamente relacionada ao com quem os jogadores da linha estão atrelados e sincronizados nos movimentos.

Veja como os movimentos de cada dupla no meio do campo de um 4–4–2 quadrado acontecem: quando o volante Amaral abriu para pressionar o portador da bola, o outro volante, Galeano, ficou centralizado; e quando o meia Djalminha abriu para marcar, o outro meia, Rivaldo, centralizou. Como eram movimentos sincronizados e atrelados para os volantes e para os meias, vemos que cada dupla fazia parte de uma linha e, então, temos o 4–2–2–2 e não um 4–4–2.
A Seleção Brasileira de 2005/06 era outro time que jogou no 4–2–2–2: veja acima Kaká abrindo para marcar e “puxando” Ronaldinho para o meio, e o mesmo acontecendo com os volantes Émerson e Zé Roberto atrás. Oras, então era o 4–4–2 quadrado em ação!
Um outro movimento típico deste 4–2–2–2 é este acima: o volante Zé Roberto abriu para marcar e toda a linha defensiva brasileira também foi bastante para o lado. Quando isso acontecia, o outro volante, que no caso é Émerson, entrava na linha defensiva para que a linha voltasse a ficar com 4 defensores.

Em termos gerais, a ideia central do 4–4–2 era fazer com que tivesse um meia para cada para lado do campo e para ter isso, seria necessário ter dois volantes que marcasse bastante atrás. Deste modo, os dois volantes teriam que saber marcar os lados e o meio ao mesmo tempo e, para tal, os movimentos de compensações teriam que acontecer de acordo com a região em que a bola estivesse. Tendo muitos jogadores perto da bola, o time adversário estava marcado.

Estes aspectos táticos eram os mais buscados pelo o 4–4–2 quadrado: congestionar o setor da bola e gerar superioridade numérica onde a bola estivesse, nem que para isso tivesse que haver compensações ao longo da equipe –como foi o caso da última imagem da Seleção Brasileira de 2005/06- e nem que tivesse deixar espaços vazios no campo.

4–4–2 losango ou 4–3–1–2

No Brasil, o 4–4–2 losango começou a ter mais visibilidade quando Zagallo começou a falar em meados de 1996 de que ");o time dele teria o “um” e este “um” seria Rivaldo. Quando Zagallo se referia ao “um”, ele já estava deixando a entender de que o seu time jogaria no 4–3–1–2.

Oras, mas por que de novo era 4–3–1–2 e não 4–4–2?

O 4–4–2 losango ganhou espaço com a Seleção Brasileira de Zagallo, mas ganhou de vez o espaço como opção tática com o time do Cruzeiro de 2003.

Assim como o 4–4–2 quadrado tem as suas peculiaridades, o 4–4–2 losango também tem e, por isso, diferencia-se dos demais para ser classificado como 4–3–1–2. No 4–4–2 losango, há três meio-campistas que, em ação defensiva, se movimentam de forma sincronizadas e se interagem entre si, são eles os três atrás do meia central. Quando a bola vai para um lado, o volante do lado abre para marcar o lado, enquanto o volante central balança para o lado em que a bola está e o volante do outro lado vem fechando o meio. Enquanto isso, o meia central fica à frente ou na linha da bola. Uma vez que em relação aos quatro meio campistas, três deles se movimentam de forma sincronizada e juntos, temos que eles formam uma “linha” e deixando, assim, somente o meia central sozinho à frente destes três jogadores e, assim, formando o “um” que Zagallo tanto falava na época.

Aqui é a prova de que era 4–3–1–2: a bola foi para o lado, e o volante daquele lado, Augusto Recife abriu para marcar o portador da bola. Com isso, o volante central, Marcio, balançou um pouco para o lado em que a bola está, e o volante oposto, Wendel, centralizou. Vejam como os movimentos destes três jogadores estão sincronizados, como eles interagem entre eles e deixa o meia central sem os mesmos movimentos. Portanto é um 4–3–1–2 e não um 4–4–2!
Além do Cruzeiro de 2003 e a Seleção Brasileira de Zagallo antes da Copa de 1998, tivemos outros times clássicos que jogaram no 4–4–2 losango.                             Como é o caso da Seleção Brasileira que jogou a Copa América de 2004 e…
O Athlético-PR de 2013 que foi vice-campeão da Copa do Brasil daquele ano. Muitos achavam que esse Furacão jogava em um 4–2–3–1, mas a sistêmica do time era um 4–3–1–2 com os atacantes Marcelo Cirino e Éderson.

4–4–2 em linha

Andamos para frente e estamos em um momento mais recente. Em 2011 com o Corinthians de Tite, o 4–2–3–1 apareceu de vez em solos brasileiros. Com a aparição do 4–2–3–1, o Brasil voltou àquela linha do tempo dos esquemas táticos europeia (lembra lá no começo do texto antes do 4–2–2–2?) e pegou o desenvolvimento do 4–4–2 em linha para o 4–2–3–1. Como o 4–2–3–1 derivava do 4–4–2, pesquisadores foram entender o que era aquele tal 4–4–2 que a imprensa européia tanto falava: era o nosso famoso 4–4–2 em linha.

Pela maioria dos brasileiros, o 4–4–2 em linha era visto nos times europeus e, principalmente, nas equipes inglesas, como é o caso acima da Seleção Inglesa de 2002. Era 4–4–2, mas agora em linha!

Na Europa, após a Copa de 1962, o 4–2–4 foi se transformando em 4–4–2, já que com os pontas recuando até o meio do campo, a equipe ganharia mais jogadores no meio, mas, principalmente: conseguia marcar melhor a faixa lateral onde a bola estivesse. Vou explicar por imagens abaixo: no 4–4–2, ao ter 4 meio-campistas em linha, a bola já teria menos chances de ir para frente, pois o ponta passa a marcar o lateral adversário de frente e passa a ter menos chances de ir para o lado, porque há 3 jogadores em linha marcando boa parte para o lado em que a bola poderia ir. Com uma linha de 4 no meio, as chances de a bola sair de onde ela estava ficaram menores do que diante de um 4–2–4.

Veja o Palmeiras de Roger Machado se defendendo num 4–4–2 em linha: Lucas Lima, no caso do momento da partida, estava como ponta direita abriu para pressionar o lateral adversário; com este movimento, o volante mais próximo, Bruno Henrique, balançou um pouco para o lado da bola, o outro volante, Felipe Melo, flutuou também e foi um pouco para trás, o ponta oposto, Dudu, balançou fechando o meio. Todos esses movimentos sincronizados fazem com que o time apresente 4 jogadores no meio do campo e todos eles na mesma linha, logo, é 4–4–2 em linha e não somente 4–4–2!


Ainda no frame do Palmeiras, vejam como os pontas passaram a marcar de frente para a bola e, como todos da linha do meio balançam juntos para o lado da bola, o portador da bola tem menores chances de conseguir dar um passe para qualquer sentido para frente e para o lado, sobrando, assim, as direções das diagonais e para trás –setas pretas.

O sistema tático ou o posicionamento defensivo no 4–4–2 em linha são mais usados atualmente do que o 4–2–2–2 ou o 4–3–1–2, dentre vários, mas principalmente, por marcar melhor o espaço defensivo. Por proporcionar maiores dificuldades para o adversário dar passe para frente, já é de muita valia, pois antes –no 4–4–2 quadrado ou no 4–4–2 losango- sempre havia uma brecha mais fácil, seja no lado ou seja na diagonal para dar um passe em progressão à meta adversária. O 4–4–2 em linha não é à toa o mais usado dentre os sistemas táticos com quatro meio-campistas. Mas e o 4–1–3–2?

4–1–3–2

Se você chegou até aqui, já dá para concluir sozinho porque é 4–1–3–2 em vez de 4–4–2, não? No 4–1–3–2, o time apresenta um volante e três meio-campistas que balançam juntos para o lado da bola. O posicionamento desses três meio-campistas vai lembrar muito os três volantes do 4–4–2 losango, mas no caso do 4–1–3–2, o “quarto” jogador do meio está atrás desses três jogadores.

Não há muitas equipes históricas que jogaram no 4–1–3–2, mas uma delas é a Seleção Brasileira de 1994, que tinha Mauro Silva atrás como volante e Mazinho, Dunga e Zinho à frente dele se movimentando e interagindo entre eles, sem o Mauro Silva.

Chegando ao fim do texto, ficaram dois pontos para trás que poderiam ter maiores detalhamentos. Um deles, se todo o texto foi lido com atenção, é os porquês de que o 4–2–3–1 e o 4–1–4–1 não são considerados 4–5–1 mesmo apesar de todos terem cinco jogadores no meio do campo, já que em cada um deles, os meio-campistas se interagem de maneiras diferentes e, assim, caracterizando um sistema tático diferente do outro. E o outro é o Flamengo de Jorge Jesus.

Passaram-se quase um ano da chegada de Jorge Jesus ao Flamengo, e o que vimos quanto ao sistema tático foi uma grande utilização de 4–2–3–1 e de 4–4–2, e uma quantidade bem menor de utilização do tal 4–1–3–2, assim como foi dito lá no começo deste texto. O 4–1–3–2, assim como foi visto ao longo deste texto, é diferente dos demais esquemas táticos com dois atacantes e uma das poucas vezes visto foi no segundo jogo da final da Libertadores contra o River Plate. O Flamengo jogara no 4–1–3–2 ao ter Arão atrás, e Éverton Ribeiro, Gerson e Arrascaeta como meio-campistas que se interagiam e realizavam movimentos sincronizados de acordo com o lado da bola, tanto que foi comum ver William Arão mais atrás e sem realizar os movimentos junto com os demais companheiros de meio campo nesta partida. 

Jorge Jesus utiliza muito o 4–2–3–1 e o 4–4–2, mas continua tendo como opção o seu 4–1–3–2.

Traduzindo o Tatiquês por Caio Gondo.



Como identificar o sistema tático com dois atacantes e quatro defensores?