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Antes de começar a fundo os assuntos deste texto, são necessários dois pontos antecedentes. Um deles é de que esquema tático e sistema tático, apesar de bem parecidos, são termos com significados diferentes. Enquanto que o esquema tático está relacionado somente ao número (aqueles 4–4–2, 3–5–2, 4–1–4–1 e etc), o sistema tático está atrelado ao como e a maneira como os jogadores se interagem. E como este texto está para mostrar as diferenças em cada esquema, pois em cada um deles o modo como os jogadores se interagem são diferentes, o que vai ser estudado aqui vai o sistema tático e, não, o esquema em si.
O segundo detalhe antes de começar e vai servir como introdução das identificações dos sistemas com dois atacantes e quatro defensores é a pergunta: por que, hoje em dia, se fala 4–2–3–1 e 4–1–4–1 em vez de 4–5–1?
Já que em todos os esquemas táticos se tem 5 meio-campistas? Pois é, se para você o 4–2–3–1, o 4–1–4–1 e o 4–5–1 são diferentes, já temos um bom primeiro passo dado para se identificar e entender o porquê de diferenciar os sistemas com 2 atacantes, 4 defensores e 4 meio-campistas.
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Agora posicionados em que assunto estamos, vamos começar pelo o sistema tático mais antigo para o mais novo aqui no Brasil. Iremos para os anos 90 e o predomínio do 4–4–2 quadrado.
4–4–2 quadrado ou 4–2–2–2
Para ficar bem claro sobre qual sistema tático irei abordar, em cada início de tópico teremos todas as maneiras de como tal sistema tático é chamado e, por isso então, que tivemos aqui o “4–4–2 quadrado ou 4–2–2–2”. No caso deste sistema, temos que, em relação às diferenças aos demais sistemas abordados aqui, o modo como os dois volantes e os dois meias se interagiam e movimentavam entre si. Pela explicação abaixo, essas diferenciações ficarão mais claras.
De maneira bem sucinta e direta, no Brasil, a história dos esquemas táticos sofreu um caminho diferente ao da Europa após a Copa de 1962. Naquele ano, a Europa seguiu o caminho com os pontas do 4–2–4 de 1962 e chegando a desenvolver o 4–4–2 em linha já em 1966, enquanto o Brasil foi indo para gerar superioridade numérica no meio chegando à Copa de 1970 com o 4–3–3. Com isso, aqui no Brasil, não tivemos muito contato com o 4–4–2 em linha e por isso não tivemos nenhum outro esquema tático utilizando 4 meio-campistas a não ser o 4–4–2 quadrado. E por este motivo que, a partir dos anos 90, muita pessoas brasileiras, mas muitas mesmo, chama o 4–4–2 quadrado por somente 4–4–2. No entanto, a partir de agora, veremos que são bem diferentes entre si.
O 4–4–2 quadrado é classificado como quadrado porque o movimento dos volantes e dos meias são sincronizados em cada dupla de meio-campistas. Já que, em fase defensiva, quando um volante abria para marcar no lado do campo, o outro centralizava; quando um volante avançava para pressionar a bola mais à frente, o outro centralizava e ficava. Além disso, os meias, em fase defensiva, também faziam os mesmos movimentos, em ação defensiva, também faziam os mesmos movimentos entre si: quando um meia abria para marcar no lado do campo, o outro centralizava; quando um meia avançava para pressionar a bola mais à frente, o outro centralizava e ficava. Uma vez que estes movimentos estavam atrelados ao outro companheiro de posição, temos que os dois volantes formavam uma “linha” e os dois meias formavam outra “linha”. Já que a formação da linha está justamente relacionada ao com quem os jogadores da linha estão atrelados e sincronizados nos movimentos.
Em termos gerais, a ideia central do 4–4–2 era fazer com que tivesse um meia para cada para lado do campo e para ter isso, seria necessário ter dois volantes que marcasse bastante atrás. Deste modo, os dois volantes teriam que saber marcar os lados e o meio ao mesmo tempo e, para tal, os movimentos de compensações teriam que acontecer de acordo com a região em que a bola estivesse. Tendo muitos jogadores perto da bola, o time adversário estava marcado.
4–4–2 losango ou 4–3–1–2
No Brasil, o 4–4–2 losango começou a ter mais visibilidade quando Zagallo começou a falar em meados de 1996 de que
Oras, mas por que de novo era 4–3–1–2 e não 4–4–2?
Assim como o 4–4–2 quadrado tem as suas peculiaridades, o 4–4–2 losango também tem e, por isso, diferencia-se dos demais para ser classificado como 4–3–1–2. No 4–4–2 losango, há três meio-campistas que, em ação defensiva, se movimentam de forma sincronizadas e se interagem entre si, são eles os três atrás do meia central. Quando a bola vai para um lado, o volante do lado abre para marcar o lado, enquanto o volante central balança para o lado em que a bola está e o volante do outro lado vem fechando o meio. Enquanto isso, o meia central fica à frente ou na linha da bola. Uma vez que em relação aos quatro meio campistas, três deles se movimentam de forma sincronizada e juntos, temos que eles formam uma “linha” e deixando, assim, somente o meia central sozinho à frente destes três jogadores e, assim, formando o “um” que Zagallo tanto falava na época.
4–4–2 em linha
Andamos para frente e estamos em um momento mais recente. Em 2011 com o Corinthians de Tite, o 4–2–3–1 apareceu de vez em solos brasileiros. Com a aparição do 4–2–3–1, o Brasil voltou àquela linha do tempo dos esquemas táticos europeia (lembra lá no começo do texto antes do 4–2–2–2?) e pegou o desenvolvimento do 4–4–2 em linha para o 4–2–3–1. Como o 4–2–3–1 derivava do 4–4–2, pesquisadores foram entender o que era aquele tal 4–4–2 que a imprensa européia tanto falava: era o nosso famoso 4–4–2 em linha.
Na Europa, após a Copa de 1962, o 4–2–4 foi se transformando em 4–4–2, já que com os pontas recuando até o meio do campo, a equipe ganharia mais jogadores no meio, mas, principalmente: conseguia marcar melhor a faixa lateral onde a bola estivesse. Vou explicar por imagens abaixo: no 4–4–2, ao ter 4 meio-campistas em linha, a bola já teria menos chances de ir para frente, pois o ponta passa a marcar o lateral adversário de frente e passa a ter menos chances de ir para o lado, porque há 3 jogadores em linha marcando boa parte para o lado em que a bola poderia ir. Com uma linha de 4 no meio, as chances de a bola sair de onde ela estava ficaram menores do que diante de um 4–2–4.
Veja o Palmeiras de Roger Machado se defendendo num 4–4–2 em linha: Lucas Lima, no caso do momento da partida, estava como ponta direita abriu para pressionar o lateral adversário; com este movimento, o volante mais próximo, Bruno Henrique, balançou um pouco para o lado da bola, o outro volante, Felipe Melo, flutuou também e foi um pouco para trás, o ponta oposto, Dudu, balançou fechando o meio. Todos esses movimentos sincronizados fazem com que o time apresente 4 jogadores no meio do campo e todos eles na mesma linha, logo, é 4–4–2 em linha e não somente 4–4–2!
Ainda no frame do Palmeiras, vejam como os pontas passaram a marcar de frente para a bola e, como todos da linha do meio balançam juntos para o lado da bola, o portador da bola tem menores chances de conseguir dar um passe para qualquer sentido para frente e para o lado, sobrando, assim, as direções das diagonais e para trás –setas pretas.
O sistema tático ou o posicionamento defensivo no 4–4–2 em linha são mais usados atualmente do que o 4–2–2–2 ou o 4–3–1–2, dentre vários, mas principalmente, por marcar melhor o espaço defensivo. Por proporcionar maiores dificuldades para o adversário dar passe para frente, já é de muita valia, pois antes –no 4–4–2 quadrado ou no 4–4–2 losango- sempre havia uma brecha mais fácil, seja no lado ou seja na diagonal para dar um passe em progressão à meta adversária. O 4–4–2 em linha não é à toa o mais usado dentre os sistemas táticos com quatro meio-campistas. Mas e o 4–1–3–2?
4–1–3–2
Se você chegou até aqui, já dá para concluir sozinho porque é 4–1–3–2 em vez de 4–4–2, não? No 4–1–3–2, o time apresenta um volante e três meio-campistas que balançam juntos para o lado da bola. O posicionamento desses três meio-campistas vai lembrar muito os três volantes do 4–4–2 losango, mas no caso do 4–1–3–2, o “quarto” jogador do meio está atrás desses três jogadores.
Chegando ao fim do texto, ficaram dois pontos para trás que poderiam ter maiores detalhamentos. Um deles, se todo o texto foi lido com atenção, é os porquês de que o 4–2–3–1 e o 4–1–4–1 não são considerados 4–5–1 mesmo apesar de todos terem cinco jogadores no meio do campo, já que em cada um deles, os meio-campistas se interagem de maneiras diferentes e, assim, caracterizando um sistema tático diferente do outro. E o outro é o Flamengo de Jorge Jesus.
Passaram-se quase um ano da chegada de Jorge Jesus ao Flamengo, e o que vimos quanto ao sistema tático foi uma grande utilização de 4–2–3–1 e de 4–4–2, e uma quantidade bem menor de utilização do tal 4–1–3–2, assim como foi dito lá no começo deste texto. O 4–1–3–2, assim como foi visto ao longo deste texto, é diferente dos demais esquemas táticos com dois atacantes e uma das poucas vezes visto foi no segundo jogo da final da Libertadores contra o River Plate. O Flamengo jogara no 4–1–3–2 ao ter Arão atrás, e Éverton Ribeiro, Gerson e Arrascaeta como meio-campistas que se interagiam e realizavam movimentos sincronizados de acordo com o lado da bola, tanto que foi comum ver William Arão mais atrás e sem realizar os movimentos junto com os demais companheiros de meio campo nesta partida.
Jorge Jesus utiliza muito o 4–2–3–1 e o 4–4–2, mas continua tendo como opção o seu 4–1–3–2.
Traduzindo o Tatiquês por Caio Gondo.